As formas tradicionais de manutenção da vida e do cuidado são singulares e fazem parte do cotidiano das pessoas, estando sempre presentes no território da Estratégia da Saúde da Família – ESF. As chamadas práticas tradicionais de cura apresentam-se de diversas formas: “puxar”, massagem, chás, “garrafadas”, rezas, trazendo alívio e aconchego às pessoas. A proposta do trabalho foi de aproximar-me (médica da ESF) desta forma de cuidar e de seus cuidadores, utilizando a cartografia para descrever as formas de cuidado presentes na comunidade União, região centro-sul de Manaus, Amazonas e fomentar o diálogo entre a ESF e as práticas populares de saúde. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de cunho etnográfico, com as narrativas gravadas e posteriormente transcritas e analisadas pela Análise do Discurso. Foram entrevistados quatro cuidadores populares; em três deles, o dom de cuidar foi inato e em um, adquirido após doença de iniciação; todos reconhecem como dádiva o dom de cuidar e, o que de graça se recebe, de graça deve ser dado; três dos quatro cuidadores têm também o dom de partejar (“pegar menino”, “arrumar barriga”). A análise das entrevistas permite inferir que a preocupação em cuidar e transmitir seus conhecimentos à pesquisadora, mesclado ao medo de serem mal-interpretados como pessoas ligadas à magia negra, esteve presente em todas as narrativas; mas o dom de cuidar prevaleceu por fim nas narrativas até agora desta pesquisa in-mundo.