Estudo de caso sobre a relação ensino-serviço na implantação da Preceptoria Médica em Saúde da Família da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
INTRODUÇÃO: Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) resulta do ato de criação da Lei nº 11.152, de 29 de julho de 2005 que transformou a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro em Universidade. Apesar de atualmente oferecer outros cursos da área de saúde, há uma centralidade no curso de medicina nessa instituição, que o consolidou como referência na formação de médicos. A publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais em 2014 impactou a reformulação do currículo do curso realizada em 2018. Nesse processo, observa-se uma tentativa de responder às demandas do sistema de saúde vigente no Brasil resultantes da promulgação da Lei n°12.871/2013, que institui o Programa Mais Médicos. Duas propostas centrais são apresentadas: um modelo de formação a partir da Atenção Básica e mudanças nas práticas pedagógicas que passam a ser centradas no estudante através do uso de metodologias ativas. Assim como ocorre em outras instituições de ensino, a inserção dos estudantes na rede de serviços não tem se dado de forma automática ou isenta de conflitos e limitações. Nesse contexto de aparente desejo/necessidade de mudanças é que a proposta de criação do cargo de preceptor, profissional que assumiria o papel do docente-clínico na formação do estudante de medicina na Atenção Básica, foi apresentada. Assim, essa pesquisa buscou compreender a percepção de docentes e preceptores diretamente ligados às disciplinas relacionadas à Saúde Coletiva sobre a relação ensino-serviço e a percepção dos mesmos sobre a estratégia de contratação de preceptores pela UFTM. METODOLOGIA: Foi realizada uma pesquisa qualitativa a partir de dados documentais e produzidos através de entrevistas. Participaram da pesquisa três docentes e três preceptores. Os dados foram coletados e posteriormente foi realizada a análise conteúdo. A análise temática revelou três núcleos temáticos que foram agrupados nas categorias “Contexto Difícil”; “Desencontro de Expectativas”; e “Fios Soltos”. RESULTADOS: Ao discutirmos sobre “Contexto Difícil”, estamos diante dos desafios da implementação de novos currículos médicos que demandam novas práticas em saúde e a inserção na rede formadora de recursos humanos. Desdobrando do contexto difícil, a (con)fusão entre os papéis de docente e preceptor parece produzir um enquadramento principal dessa categoria nomeada como “desencontros de expectativas”. Em “fios soltos”, a permanência de outra lacuna parece revelada, agora entre a universidade e a rede municipal. CONCLUSÃO: Assim, a pesquisa demonstra que não existe caminho simples para a integração ensino-serviço. A interdependência dos atores indica que o desafio a ser superado demanda construção de agendas e espaços de decisão coletivos. A partilha dos preceptores pode deslocar da posição de apenas um efeito burocrático de garantia de campo de prática para uma experiência dialógica de formação de recursos humanos para o SUS, valorização da preceptoria e aliança entre os atores da rede.
