Repercussões clínicas e sociais de crianças portadoras de infecção congênita por zika vírus acompanhadas em um centro de referência de João Pessoa

Em 2015, após um aumento inesperado do número de recém-nascidos microcefálicos associados à uma história materna de doença exantemática durante a gravidez, foi descoberto um novo membro dos agentes etiologicos responsaveis pelas infecções congênita por transmissão vertical: o Virus Zika. A infecção congênita pelo Zika virus (CVZ), além da microcefalia, leva à serios compometimentos neurológicos e sistêmicos causando um severo atraso no desenvolvimento destas crianças. No presente estudo, foram revisados vinte e nove casos de crianças diagnosticadas com infecção congênita por Zika vírus e microcefalia acompanhados em um centro de referência na cidade de João Pessoa. O trabalho buscou descrever os principais achados clínicos, complicações neurológicas e malformações congênitas sistêmicas presentes nestas crianças e compreender o impacto que a patologia causos na qualidade de vida nas famílias. A análise foi feita através de exame físico e neurológico das crianças ao completarem dois anos de vida, revisão de dados de prontuário médico e entrevista dos cuidadores para preenchimento de ficha com questionário semiestruturado contemplando variáveis sociodemográficas e aplicação de escala para avaliação da qualidade de vida WHOQOL-Bref. Cinquenta e um por cento das mães relataram a presença de sintomas sugestivos de Febre do Zika no primeiro trimestre da gravidez. Em relação as complicações neurológicas detectadas, a epilepsia foi a de maior relevância, afetando 79% dos casos. A alteração comportamental encontrada com maior frequência foi a irritabilidade (n=4). Cinquenta e um por cento das crianças apresentaram linguagem no estágio inicial de sons guturais (n=15) e quarenta e um por cento não apresentavam controle cervical completo (n=12) ao serem avaliadas aos 24 meses de vida, configurando grave atraso no desenvolvimento neurológico esperado para a idade. Noventa e três por cento dos pacientes apresentaram algum tipo de comprometimento motor. Dentre os acometidos, 100% apresentou padrão motor de tetraparesia espástica. Malformações cardíacas, renais e ósseas foram as principais encontradas no estudo.(n=9). Em relação aos dados sociais e de qualidade de vida familiar, os resultados mostram que a genitora exerce o papel de principal cuidador em noventa por cento das famílias, fato que motivou 60% das cuidadoras a sair do trabalho e 25% a trancarem os estudos. Houve mudança na intenção reprodutiva em 55% das famílias. Metade das famílias analisadas vivenciou alguma situação de preconceito. A depressão e lombalgia foram os principais sintomas citados pelas cuidadoras e atribuídos as necessidades especiais do cuidado a criança com Zika vírus. Em relação a renda familiar, a principal fonte de recursos financeiros foi o trabalho informal. Das famílias analisadas, quarenta por cento não possuem a figura paterna inserida no seu núcleo familiar. Em relação a qualidade de vida, a média dos valores da escala WHOQOL-Bref demostraram valores abaixo de 50% em todos os domínios analisados, demonstrando uma percepção negativa da qualidade de vida. Apesar do pequeno número de pacientes analisados, os dados obtidos neste estudo, sugere que CVZ gera um forte impacto emocional, físico, econômico e social no núcleo dessas famílias. Os dados do presente estudo visam auxiliar a construção do conhecimento científico sobre a evolução natural da infecção congênita por Zika vírus com suas repercussões clínicas e sociais, contribuindo na incorporação de novas evidências para melhor descrever a história natural dessa doença.

https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/20148

Ano da defesa: 
2019
Linha de pesquisa: 
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Autor: 
Maria Celeste Dantas Jotha de Lima
Orientador: 
Prof. Dr. Claudio Sergio Medeiros Paiva
IES associada: 
Universidade Federal da Paraíba