Seriam as tecnologias usadas na Atenção Primária à Saúde socialmente aceitáveis? – Uma revisão de escopo

A definição clássica de Alma-Ata para a Atenção Primária à Saúde (APS) diz que “Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis” (OMS; UNICEF, 1978). Apesar disso, existem indícios de que tecnologias praticadas na APS podem carecer de aceitabilidade social – conceito que parece ser pouco investigado e nem sempre bem definido. Assim, esta pesquisa objetivou compreender a aceitabilidade social das tecnologias de APS e identificar tecnologias de cuidado na APS que tenham sido estudadas quanto a sua aceitabilidade social, no Brasil e no mundo. Para tal, definiu-se pela Revisão de Escopo: “forma de síntese de conhecimento que aborda uma questão de pesquisa exploratória para mapear conceitos-chave, tipos de evidência e lacunas nas pesquisas relacionadas com uma área definida, através de sistemática busca, seleção e síntese do conhecimento existente” (COLQUHOUN et al., 2014, p. 1292- 1294). As buscas por artigos em português, inglês ou espanhol, publicados entre 1978-2019, sobre alguma avaliação de aceitabilidade, no âmbito coletivo, de alguma tecnologia utilizada na APS, se iniciaram no Academic search premier, CINAHL complete, Medline - PubMed, SciELO, Science Direct, Web of Science e BVS/Lilacs, seguiram nas listas de referências de cada artigo selecionado, além de busca complementar para alguns objetivos específicos via Google e Google Scholar. Isto levou a identificação de 13.874 artigos, dos quais foram selecionados 201 para a tabulação de informações e análise. Verificou-se uma grande variedade de tecnologias praticadas em diversos cenários de APS em 41 países, com aumento de frequência especialmente a partir de 2003. As tecnologias investigadas no conjunto de artigos foram organizadas de forma temática, distribuídas em 4 grandes temas, listados a seguir (acompanhados de exemplos das tecnologias estudadas com maior frequência neles contidas): “ORGANIZAÇÃO” (“acesso” e “Estratégia Saúde da Família”); “COMUNICAÇÃO” (“teleatendimento” e “aplicativo”); “ATENDIMENTO” (“vacina”, “exame”, “psicoterapia”, “pré-natal”, “HPV”, “HIV” e “câncer”); e “PROFISSIONAIS” (“enfermeiro”). Predominaram definições implícitas ou simplesmente operacionais, sem clara base teórica, envolvendo principalmente 3 acepções possíveis para o conceito de “aceitabilidade”: percepções sobre uma tecnologia; a intenção de aceitar ou não uma tecnologia; simplesmente aceitar de fato (ou não) uma tecnologia. Em menor escala, foram identificados artigos que definiram “aceitabilidade” como ligada a outros 4 conceitos: confiança, participação, acesso e qualidade do cuidado. No geral, as tecnologias estudadas foram consideradas bem aceitáveis socialmente, apesar de terem sido detectadas tecnologias com aceitabilidade social ruim ou regular – incluindo algumas cujo grau de aceitabilidade variou com diferentes cenários, definições e/ou metodologias. Por fim, esta revisão de escopo deixou claro que existem muitas lacunas na compreensão da aceitabilidade social de tecnologias de cuidado em uso na APS, o que poderia levar a mais pesquisas apropriadas neste campo, a mudanças nas tecnologias em uso, a ajustes na forma de implementar tais tecnologias, e/ou a esforços para modificar a aceitação das tecnologias de APS na sociedade.

Ano da defesa: 
2021
Linha de pesquisa: 
ATENÇÃO À SAÚDE, ACESSO E QUALIDADE NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE
Autor: 
César Monte Serrat Titton
Orientador: 
Prof. Dr. Paulo Poli Neto, Profa. Dra. Giovana Daniela Pecharki Vianna
IES associada: 
Universidade Federal do Paraná