Acesso à Atenção Primária à Saúde: a experiência do acolhimento por equipe em São Bernardo do Campo

Introdução: A temática do acesso vem ocupando espaço crescente nos debates da Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil, tendo diversos municípios e serviços isolados investido em novas modelagem de organização da demanda nos últimos anos. A operacionalização destas iniciativas e suas repercussões no processo de trabalho dos serviços e na qualidade do cuidado prestado ainda carecem de investigação. Objetivos: Descrever a implantação do Acolhimento por Equipe (AE), dispositivo de acesso idealizado e desenvolvido no município de São Bernardo do Campo-SP, bem como analisar as suas repercussões no processo de trabalho, ampliação do acesso e qualidade do cuidado prestado à população, segundo a perspectiva dos trabalhadores. Metodologia: Foi desenvolvido um estudo de caso qualitativo. A coleta de dados se deu a partir de doze entrevistas semiestruturadas realizadas em fevereiro de 2018. Foram eleitos como sujeitos da pesquisa os profissionais de nível superior que se encontravam vinculados às duas equipes pioneiras na implantação do AE. Estes sujeitos foram divididos em dois núcleos: um, aqui denominado ‘núcleo fundador’, que compreendia os profissionais que atuavam nas equipes em 2014 e outro, aqui chamado de ‘núcleo contemporâneo’, que compreendia os profissionais que atuavam nas equipes em 2018. Os dados foram tratados a partir dos referenciais teóricos da análise de conteúdo, de Laurence Bardin (2004) e do método hermenêutico-dialético, de Minayo (1994). Do tratamento de dados emergiram três categorias de análise: “o trabalhador como sujeito”, “a APS em disputa” e “o acesso na efetivação do direito à saúde”. Resultados e Discussão: Dos doze sujeitos entrevistados, seis compunham o núcleo fundador, dos quais três eram médicos, dois enfermeiros e um psicólogo e seis compunham núcleo contemporâneo, dos quais três eram médicos, dois enfermeiros e um fisioterapeuta. Dentre as principais características de ambos os grupos, encontra-se a formação específica em APS, através de especializações lato senso em saúde da família e residência médica em Medicina de Família e Comunidade (MFC) ou multiprofissional. Verifica-se na narrativa dos diferentes sujeitos que o AE foi fruto de uma ação protagônica dos trabalhadores das equipes, favorecida pela indução do nascente programa de residência médica em MFC e por uma gestão de tipo matricial e permeável à mudança (Campos, 1998). Destaca-se entre as principais tensões que permearam o processo de implantação, as resistências à gestão das agendas por parte das equipes, a crítica à oferta de atendimentos no mesmo como prática definidora dos serviços de urgência e emergência e o receio em perder a continuidade do cuidado dos grupos tidos como prioritários pela restrição ao agendamento de longo prazo. De modo geral, os sujeitos expressam que o AE parece favorecer o cuidado, inclusive dos grupos prioritários, por tornar as agendas dos trabalhadores permeável a situações clínicas mais diversas e em momento mais oportuno para o usuário. No que se refere ao trabalho em equipe, o AE parece ter contribuído para com a valorização do trabalho da enfermagem e no distensionamento do trabalho do agente comunitário de saúde, pela ampliação da capacidade de resposta da equipe na gestão dos seus próprios recursos. Quando a ampliação do acesso, o AE apresentou seus melhores resultados na redução do tempo de espera para consultas e na abertura do serviço a sujeitos que não se encaixavam nas antigas agendas programáticas a perder de vista. Dentre os principais problemas do AE são citados o tempo de espera para atendimento no mesmo dia (ciclo de tempo) e a exposição dos trabalhadores à elevada carga de atendimentos, como fator de risco para síndrome do burnout. Conclusão: O AE é um dispositivo de acesso com características intermediárias entre o modelo carve-out e o acesso avançado (Murray, 2009). Seu principal resultado parece ser a redução significativa do tempo de espera para consultas. Parece também facilitar o dialogo entre a equipe, favorecendo a atuação de campo, bem como valorizar o papel da enfermagem e potencializar o trabalho dos agentes comunitários de saúde. Permanece com principal limitação do AE o ciclo de tempo do usuário no serviço. A associação entre as diferentes formas de organizar a demanda e a ocorrência de burnout nos trabalhadores ainda carece de mais estudos.

Ano da defesa: 
2019
Linha de pesquisa: 
EDUCAÇÃO E SAÚDE: TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DA EDUCAÇÃO, COMPETÊNCIAS E ESTRATÉGIAS
Autor: 
Diângeli Soares Camargo
Orientador: 
Profa. Dra. Elen Rose Castanheira, Profa. Dra. Luciana Parenti
IES associada: 
Universidade Estadual Paulista