O adoecer em usuários de insulina acompanhados no programa de automonitoramento glicêmico: da prática assistencial à integralidade em saúde

Os portadores de Diabetes Mellitus em uso de insulina apresentam singularidades no modo de adoecer e na retomada da normalidade funcional em seus cotidianos. Investigar o processo de trabalho dos profissionais do Programa de Automonitoramento Glicêmico, cotejando-se as necessidades de saúde dos usuários de insulina, pode contribuir para o aprimoramento das práticas assistenciais sob a óptica da integralidade. Objetivos: subsidiar as práticas assistenciais no âmbito do Programa de Automonitoramento Glicêmico de uma Unidade Básica de Saúde com base na caracterização das necessidades de saúde de indivíduos portadores de DM em uso de insulina. Identificar e caracterizar as necessidades em saúde de indivíduos portadores de DM em uso de insulina acompanhados no Programa de Automonitoramento Glicêmico de uma Unidade Básica de Saúde. Identificar e caracterizar as práticas de saúde no âmbito do Programa de Automonitoramento Glicêmico na perspectiva da integralidade da atenção. Discutir com os profissionais atuantes no PAMG a experiência do adoecer de usuários com DM em uso de insulina. Métodos: estudo de delineamento qualitativo. Realizaram-se duas rodas de conversa com usuários de insulina acompanhados pela equipe Estratégia Saúde da Família e cinco entrevistas semiestruturadas com todos os profissionais da saúde atuantes no PAMG de uma Unidade Básica de Saúde do município de São Paulo. O material audiogravado foi submetido à técnica de análise de conteúdo. Resultados: o adoecimento dos usuários de insulina está diretamente vinculado aos obstáculos que essa prática impõe à normalidade social e produtiva. Destaca-se na experiência do adoecer as dificuldades de reordenação da funcionalidade vital pelos sujeitos adoecidos, expressadas por uma tendência comportamental de resistência às propostas terapêuticas que incidem sobre os modos de vida. Revela-se na dimensão do tratamento a necessidade de percepção do efeito farmacológico sobre o corpo vivido, na busca pela retomada do self biológico, bem como o conflito subsequente à necessidade de manejo insulínico inserido dentro de uma estética singular do viver. As atividades em grupo desenvolvidas pelo PAMG da Unidade Básica de Saúde operam como espaço potencial de troca dialógica entre a comunidade e os trabalhadores de saúde, expectativa essa incorporada à distribuição dos insumos e gestão dos registros clínicos. Na perspectiva dos profissionais de saúde, o processo de trabalho apresenta entraves operacionais, relacionados principalmente à divergência e articulação das informações entre os trabalhadores do equipamento de saúde. A dificuldade na promoção da autonomia dos sujeitos adoecidos mostrou-se associada ao fatalismo simbólico decorrente da incapacidade dos usuários de insulina em reproduzir saberes técnico-instrumentais. Conclusão: A prática assistencial no contexto da Unidade Básica de Saúde encontra dificuldades em responder às necessidades de saúde dos usuários de insulina. A constituição de espaços dialógicos com a comunidade no contexto do PAMG e a incorporação de diferentes saberes no cotidiano assistencial podem determinar abordagens singulares no planejamento do cuidado das pessoas em uso de insulina.

Ano da defesa: 
2019
Linha de pesquisa: 
EDUCAÇÃO E SAÚDE: TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DA EDUCAÇÃO, COMPETÊNCIAS E ESTRATÉGIAS
Autor: 
Ivan Wilson Hossni Dias
Orientador: 
Profa. Dra. Virgínia Junqueira
IES associada: 
Universidade Federal de São Paulo