Análise dos fatores associados ao processo saúde-doença-cuidado mental em trabalhadores(as) rurais da agricultura familiar e da pesca artesanal

A Estratégia Saúde da Família (ESF) realiza cuidados da população adscrita em um território, devendo lidar com as singularidades no processo saúde-doença-cuidado, como os relacionados aos aspectos mentais. Este estudo analisou os fatores que contribuíram para o processo saúde-doença-cuidado mental em pescadores(as) artesanais e agricultores(as) familiares que vivem no território rural em um município do Nordeste brasileiro. É um estudo analítico com abordagem quantitativa e delineamento transversal com 152 agricultores(as) familiares e/ou pescadores(as) artesanais realizada no município de Novo Oriente, Ceará, Brasil. A coleta de dados foi no período de setembro a outubro de 2020, por meio de formulário no software ODK. Os dados coletados foram: sociodemográficos, biopsicossociais e avaliação dos cuidados em saúde, além destes foram aplicados teste de rastreio para sofrimento mental (SRQ-20) e uso abusivo de álcool (AUDIT), medidas antropométricas, aferição de pressão arterial e glicemia capilar. Os cálculos estatísticos foram realizados no programa SPSS, sendo a análise descritiva com frequência absoluta e relativa, média aritmética e desvio-padrão das variáveis e a análise analítica com teste de qui-quadrado de independência e regressão logística multivariada. Os resultados demonstraram algumas vulnerabilidades: deficiência no tratamento da água para consumo (19,5% n=29), existência de problemas ambientais (25,7% n=39), insatisfação com a produção (26,6% n=40), baixa renda familiar (34,6% n=47), inexistência de escolas (75% n=114) ou creches (88,2% n=134), carência de opções de lazer (51,3% n=78) e preocupação com alimentação (37,5% n=57). Na avaliação da saúde foram detectados: alto risco cardiovascular pela relação cintura-quadril (37,8% n=57) e sofrimento mental (23% n=35). Evidenciou-se fragilidades nos cuidados em saúde e avaliação do serviço: não fazem acompanhamento de saúde (51,3% n=78), falta de conhecimento sobre a ESF (67,1% n=102), distância da casa à unidade básica de saúde (UBS) acima de 5 km (58,2% n=64), faltam profissionais na UBS (59,5% n=78%) e compra de medicamentos (87% n=54). Na análise por regressão logística ajustada houve correlação do sexo feminino [OR= 3,8; IC 95%=1,62 - 8,91; p= 0,002] e do tipo de trabalho agricultura e trabalho doméstico [OR= 6,28; IC 95%=1,21- 32,70; p=0,049] com o desfecho de sofrimento mental. Portanto, o trabalho rural e a saúde mental, principalmente relacionados às mulheres, devem ser destacados no acompanhamento das equipes de saúde da família rural, buscando melhoria no acesso e na qualidade dos serviços.

Ano da defesa: 
2021
Linha de pesquisa: 
ATENÇÃO INTEGRAL AOS CICLOS DE VIDA E GRUPOS VULNERÁVEIS
Autor: 
Luis Lopes Sombra Neto
Orientador: 
Profa. Dra. Vanira Matos Pessoa
IES associada: 
Fiocruz Ceará