Este estudo objetivou caracterizar os aspectos motivacionais de acadêmicos de medicina em relação às suas perspectivas profissionais e atuação na Estratégia Saúde da Família (ESF). Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, de natureza qualitativa que contou com a participação de 31 estudantes de duas instituições de ensino superior de Campo Grande - MS. A coleta de dados ocorreu no período de novembro de 2017 a dezembro de 2018 e deu-se por meio de: 1- análise documental do Projeto Político Pedagógico de ambas instituições e 2- entrevistas com acadêmicos dos primeiros e sextos anos das referidas universidades. A amostra final foi determinada pela saturação dos dados. As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à técnica de análise de conteúdo, preconizada por Bardin. As categorias analíticas, criadas com base no referencial teórico de Deci e Ryan, foram: motivação intrínseca, motivação extrínseca e desmotivação. Emergiram dos discursos os núcleos de sentido relativos aos aspectos motivacionais intrínsecos: compaixão social e valores pessoais; interdisciplinaridade, trabalho em equipe e inserção na comunidade; identificação com a área da saúde; e, extrínsecos: influência familiar; estabilidade econômica; o trabalho na ESF com fonte de renda temporária; experiências positivas a partir da integração ensino-serviço; e preocupações familiares e pessoais. Na categoria desmotivação foram reunidos os núcleos, a saber: a hegemonia das especialidades médicas X a medicina de família e comunidade (MFC); pressão social; precárias condições de trabalho e remuneração; desconhecimento da ESF; e baixa qualidade de inserção na Unidade de Saúde da Família durante a graduação. A ESF aparece como uma oportunidade de trabalho temporário, para se obter renda e continuar estudando até a aprovação em um programa de residência médica em outra área. Foi notório que a ideologia do trabalho na ESF cativa os acadêmicos, no entanto, as forças extrínsecas geram desmotivação resultando na não escolha pela MFC como carreira. Desta forma, é fundamental explorar, nos estudantes de medicina, o potencial motivacional intrínseco, assim como desenvolver estratégias para romper as barreiras e os fatores extrínsecos que limitam e paralisam a tomada de decisão em prol da ESF.