A concepção de cuidado e os modelos de atenção às pessoas que sofrem mentalmente foram questionados e modificados ao longo da história de assistência à saúde no Brasil. O modelo de atenção psicossocial, defendido pela reforma psiquiátrica, luta pela qualificação do cuidado com o intuito de promover a reinserção social, o desenvolvimento de autonomia e a consolidação do cuidado integral às pessoas que sofrem mentalmente. Neste contexto, destacam-se práticas terapêuticas não convencionais - as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) - que possibilitam o cuidado integral em saúde mental e podem se configurar como boas práticas em saúde mental no território. Considerando a necessidade de consolidar o discurso e a prática de um cuidado integral e centrado nos sujeitos em sofrimento psíquico, a dissertação de mestrado teve como objetivo propor a ordenação do cuidado em saúde mental considerando a abordagem das PICS nos serviços primários em um município da região metropolitana de Salvador - BA. O presente trabalho utilizou o referencial teórico de Boas Práticas em Saúde Mental Comunitária concebido por Thornicroft e Tansella (2010) e a proposta metodológica da Pesquisa Convergente Assistencial (PCA). Diante do cenário de pandemia do COVID-19, os dados do presente trabalho foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com usuários e trabalhadores selecionados e pelo grupo convergente assistencial on-line para a construção da “Cartilha de recomendação aos serviços primários para implementação do cuidado em saúde mental com a abordagem em PICS”. As experiências relatadas e vivenciadas pelos profissionais e usuários desse estudo demonstraram que a oferta de PICS no território possibilita serviços mais flexíveis, acessíveis, que considera as singularidades e os desejos dos sujeitos e têm efeito terapêutico, sendo, portanto, uma estratégia potente no contexto da atenção primária para o cuidado em saúde mental. O modelo de cuidado em saúde mental utilizando a abordagem das PICS construído pode proporcionar novos sentidos do modo de viver, produzindo saúde e ampliando a oferta terapêutica na APS, podendo consolidar o cuidado integral às pessoas que sofrem e ser adotado em outros espaços de cuidado. Nesse sentido, as PICS nos serviços primários podem ser uma estratégia de Boas Práticas em Saúde Mental Comunitária por apresentar resultados com base na ética, evidência e nas experiências dos serviços. Nessa perspectiva, a legitimação das PICS como oferta de cuidado em saúde mental de forma institucional nos serviços primários é necessária e possibilitará a garantia de um cuidado integral, além da ampliação e pluralização do cuidado em saúde mental no contexto da atenção básica.