Caminhos pela rede: trajetórias assistenciais de pacientes diabéticos no município de Niterói/RJ
O Sistema Único de Saúde (SUS), organizado predominantemente de forma fragmentada, não tem respondido satisfatoriamente às demandas impostas pelo aumento expressivo das condições crônicas. Um modo de superar o obstáculo da fragmentação é a constituição de Redes de Atenção à Saúde (RAS), com interação entre os serviços e com a Atenção Primária à Saúde (APS) assumindo a função de ordenadora da rede. Sendo assim, este estudo qualitativo teve o objetivo de caracterizar e analisar o acesso e a continuidade dos cuidados entre APS e Atenção Especializada (AE) no município de Niterói, a partir de Trajetórias Assistenciais (TA) de pacientes diabéticos. A pesquisa foi feita utilizando roteiro semiestruturado com usuários do Programa Médico de Família (PMF) nas regiões de saúde do município. Os dados coletados foram categorizados a partir da aplicação da técnica de análise de conteúdo temático. Os resultados apontaram que, embora a experiência dos usuários com a APS seja positiva, existem lacunas nos cuidados do diabético que surgiram nas narrativas, como a alta rotatividade de médicos, a disponibilidade insuficiente de medicamentos, a participação limitada dos enfermeiros na assistência e a comunicação insuficiente entre profissionais e usuários. A pesquisa revelou uma sobrevalorização da AE em detrimento da APS. Na busca por cuidados, houve relatos de utilização de serviços privados. A participação em atividades de educação e promoção em saúde foi baixa entre os entrevistados. Os principais pontos positivos foram a facilidade de acesso geográfico, a facilidade para marcar consultas e realizar exames e a relação de proximidade com os trabalhadores, principalmente os agentes comunitários de saúde. O acesso à AE foi facilitado, entretanto, após a chegada a esse nível de atenção, surgiram problemas, tais como falta de um profissional de referência, rotatividade de médicos e falhas na comunicação interpessoal. No que tange à continuidade dos cuidados entre APS e AE, não foi identificada integração entre os dois níveis, com a ausência de mecanismos de compartilhamento de informações e a assistência acontecendo de forma isolada nos pontos de atenção. Mesmo com as dificuldades apresentadas, os usuários avaliaram bem os serviços. Os resultados deste trabalho demonstraram que ainda é preciso avançar para superar as barreiras da fragmentação, organizando a rede e os processos de trabalho, com foco no usuário e nas suas necessidades a fim de garantir a continuidade dos cuidados e uma assistência de qualidade. Palavras-chave: Diabetes mellitus. Continuidade dos cuidados. Trajetórias assistenciais.