O Transtorno do Espectro Autista (TEA) está entre os problemas de saúde mental que mais prejudicam o desenvolvimento infantil. Dados recentes do Centro de Desenvolvimento Infantil (CDC) de Harvard mostram a cifra de 1:59 como sendo a prevalência de TEA entre crianças de 8 anos de idade em 11 cidades dos EUA. A população de indivíduos com TEA é heterogênea, porém existem denominadores comuns: déficits em habilidades sociais e de comunicação e comportamentos restritivos e / ou repetitivos. Estes indivíduos são altamente visuais em seu processo de aprendizagem, o que aumenta as possibilidades de benefícios com o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’S). O objetivo deste estudo foi propor cenários de utilização de TIC’S para suporte à criança com Transtorno do Espectro Autista. Trata-se de uma pesquisa com abordagem mista subdividida em duas etapas. A Etapa I consistiu em um estudo qualitativo, descritivo, exploratório, e transversal, mediante grupos focais e entrevistas para conhecer o cotidiano de crianças com TEA, entre seis e doze anos incompletos de idade, suas fragilidades e potencialidades, através do olhar dos familiares/cuidadores e da equipe multiprofissional que as acompanha. Esta etapa do estudo foi realizada na Casa da Esperança, uma fundação sem fins lucrativos, com sede em Fortaleza (Brasil),especializada no atendimento às pessoas com TEA. A Etapa II foi uma pesquisa de desenvolvimento metodológico baseada em oficina com equipe interprofissional, incluindo a participação de profissionais de Tecnologia de Informação, na qual as informações obtidas na Etapa I foram utilizadas para proposta de cenários de emprego das TIC’S em situações e contextos da vida de crianças com TEA, sua família e profissionais que se dedicam a esse público, à luz dos fundamentos de produção de conhecimento da plataforma de Governança Inteligente dos Sistemas de Saúde (GISSA). Como principais resultados tivemos: 1) Em relação às crianças, constatou-se que um dos maiores desafios enfrentados no cotidiano é a dificuldade em adquirir independência nas atividades da vida diária; 2) Os familiares/cuidadores referiram sentir solidão e falta de apoio de uma maneira geral, além de enfrentarem, junto com seus filhos, preconceito da sociedade em relação ao TEA e dificuldades de inclusão verdadeira nas escolas; 3) Foram propostos, após a Etapa II do estudo, sete possíveis cenários de aplicações para crianças com TEA e suas famílias, destacando-se dois deles por seu caráter inovador e viabilidade, a aplicação educativa para suporte ao desenvolvimento da autonomia nas atividades da vida diária, baseada no uso da Realidade Aumentada, e a aplicação de apoio aos familiares/cuidadores. Esperamos que os conhecimentos trazidos pelo presente estudo possam ser utilizados para o desenvolvimento efetivo de TIC’S qualificadas para o suporte às pessoas com TEA, seus familiares, cuidadores, bem como para os profissionais dedicados à atenção deste coletivo.