Desabrochar, fulorar e produzir sementes: cartografias afetivas e plantas medicinais no SUS

Este trabalho foi desenvolvido com vistas a cartografar as afetações surgidas a partir da interação com pessoas que carregam os saberes populares relacionados às plantas medicinais (PM) no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS), trazendo à tona processos da minha história que envolvem resistências para manter vivas práticas e crenças sobre as PM diante de formações acadêmicas influenciadas pela colonialidade. Por meio da cartografia foi possível acompanhar guardiãs e guardiões dos saberes populares e compreender aspectos subjetivos e singulares relacionados às formas de cuidado que envolvem as PM. O território do estudo se deu na Unidade de Saúde da Família (USF) Alto da Maravilha, que abrange um quilombo urbano. Os dados foram produzidos entre março de 2021 e junho de 2022, a partir da produção de diário de campo, no qual o pesquisador registrou suas afetações a partir de situações disparadoras. Estes subsidiaram a construção de sete contos cartográficos que revelaram vivências, afetos, inspirações, prazeres, desapontamentos, aprendizados e experiências. Os caminhos dessa pesquisa cartográfica se constituíram de passos que se sucederam sem se separar, sem um momento exclusivo para a análise de dados, que esteve associada à produção e à discussão durante todo o processo, e inspirou-se nas quatro variedades atencionais do cartógrafo: o rastreio, o toque, o pouso e o reconhecimento atento. Os contos cartográficos revelaram o meu processo de conexão com as PM, que foi fortalecido a partir da abertura ao encontro com guardiãs e guardiões dos saberes populares do território. Assim, fui mobilizado a sair do lugar “tradicional” do médico para aprender no território com experiências vivas de cuidado transmitidas há muitas gerações. Pude experenciar outras formas de cuidado para além da biomedicina, ao me reencontrar com as PM e os saberes populares a elas relacionados, o que me fez ampliar o olhar sobre o conceito de PM. Paralelamente, ficou perceptível que a relação das equipes de saúde da família com as PM pode contribuir para a efetivação dos princípios do SUS e dos atributos da APS. Os movimentos coletivos impulsionados por este trabalho fizeram brotar alguns produtos: A história contada do Alto da Maravilha e um cordel usado em espaços coletivos para contribuir com o entendimento do reconhecimento como quilombo urbano. Um Projeto de Lei construído coletivamente, que dispõe sobre a renomeação da USF para Unidade de Saúde da Família Quilombola Alto da Maravilha. A criação do site do Quilombo Urbano Alto da Maravilha para divulgar aspectos históricos, culturais, ecoturísticos e das tradições de cura do quilombo. Revitalização da Farmácia Viva da USF Alto da Maravilha. Por fim, a carta de aceite do capítulo de livro “Plantas Medicinais e Colonialidade do Saber na APS”. Palavras-chave: Plantas medicinais. Medicina tradicional. Atenção Primária à Saúde.

Ano da defesa: 
2022
Linha de pesquisa: 
ATENÇÃO À SAÚDE, ACESSO E QUALIDADE NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE
Autor: 
Artur Alves da Silva
Orientador: 
Profa. Dra. Luciana Alaíde Alves Santana
IES associada: 
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia