As estratégias de prevenção e cuidado das equipes de saúde da família frente às violências em um município do sul da Bahia

Como fenômeno social e histórico, as violências fazem parte da experiência humana desde os primórdios das sociedades e são reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos principais problemas de saúde pública mundial. Desse modo, torna-se importante destacar que desde o início dos anos 2000 a Estratégia Saúde da Família (ESF) vem ampliando o escopo de ações, com responsabilidades cada vez mais abrangentes, visando atender problemas que antes eram menos frequentes ou ausentes na agenda da saúde, como o acolhimento às vítimas de violências. Neste sentido, a pesquisa objetivou analisar as práticas de cuidado da ESF e as abordagens intersetoriais no acolhimento às vítimas de violências em um município do Sul da Bahia. Trata-se de um estudo qualitativo de caráter exploratório, desenvolvido com 4 Equipes de Saúde da Família no município de Porto Seguro-BA. Os dados foram coletados em três etapas, sendo a primeira o levantamento da literatura especializada nas bases de dados Scientific Electronic Library (SciELO), National Library of Medicine (Medline) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), utilizando os descritores: violências; vulnerabilidades; desigualdades sociais; intersetorialidade; Estratégia Saúde da Família. A segunda foi realizada a análise documental pelos registros de informações produzidas pelo projeto de intervenção sobre as violências no território nos anos de 2017 e 2018, durante o PETSaúde/ GraduaSus. Por fim, na terceira etapa, foram realizados grupos focais no período de novembro a dezembro de 2021, formados por profissionais de saúde, agentes comunitários e profissionais da rede de apoio ao combate às violências, totalizando uma amostra de 36 participantes. Após a coleta os dados foram transcritos e analisados utilizando técnica de análise de conteúdo proposto por Bardin, organizados nas seguintes categorias: “Fragilidade do modelo de atenção biopsicossocial na abordagem no processo de trabalho”; “Subnotificação e invisibilidade das violências”; “Impactos da pandemia da Covid-19 e descontinuidade de ações”; “Cartilha de abordagem para o Enfrentamento dos Diferentes Tipos de Violências”; “O lugar da vítima". As categorias demonstram que os profissionais reconhecem a fragilidade da rede de proteção às vítimas de violências, a ausência de condições estruturais e desarticulação entre os serviços, principalmente durante o período da pandemia da Covid-19. Apontam ainda que o cotidiano desses serviços é permeado pela redução do número e rotatividade de profissionais, precárias condições de trabalho com inadequação para o desenvolvimento da atenção, além das lacunas na capacitação e sensibilização. Conclui-se que os profissionais de saúde estão despreparados para atender casos de violências, conseguem identificar principalmente as lesões físicas, focam na abordagem biológica, não realizam a notificação de forma compulsória, o que representa um entrave para a visibilidade, consequentemente, não buscam estratégias de enfrentamento. Neste sentido, faz-se necessário ações de Educação Permanente sobre o tema. Palavras-chave: violências; vulnerabilidades; desigualdades sociais; intersetorialidade; Estratégia Saúde da Família.

Ano da defesa: 
2022
Linha de pesquisa: 
EDUCAÇÃO E SAÚDE: TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DA EDUCAÇÃO, COMPETÊNCIAS E ESTRATÉGIAS
Autor: 
MARIA DA CONCEIÇÃO JULIÃO BADARÓ
Orientador: 
Profa. Dra. Lina Rodrigues de Faria
IES associada: 
Universidade Federal do Sul da Bahia