Fatores Associados ao Consumo Abusivo de Bebidas Alcoólicas entre Universitários durante a Pandemia de COVID-19

Um novo vírus surgiu na cidade chinesa de Wuhan e, rapidamente, se espalhou pelo mundo impondo medidas de contenção e mitigação nunca vistas. Medidas de isolamento e distanciamento social foram adotadas como forma diminuir a disseminação do vírus Sars-CoV2 e, consequentemente, dos casos de COVID-19. Uma preocupação levantada no início da pandemia foi a possível intensificação do abuso de bebidas alcoólicas durante o isolamento. Os universitários foram duramente atingidos com a suspensão das atividades presenciais, adaptação para aulas online, isolamento em relação aos amigos e a volta para a casa dos pais. Assim, este estudo investiga o consumo de bebidas alcoólicas por estudantes universitários durante o período de isolamento social imposto pela pandemia e a identificação de grupos de maior vulnerabilidade que necessitem de estratégias específicas. Para isso, foram coletados dados de estudantes de uma universidade do interior de Minas Gerais, nos meses de julho e agosto de 2020, por meio de questionário online, autoaplicado e confidencial, que abordou o uso abusivo de álcool, o perfil semanal de consumo de bebidas, características gerais, condições socioeconômicas, hábitos de vida e condições de saúde física e mental. A associação do uso abusivo de álcool com essas variáveis foi avaliada pelo teste Qui-quadrado de independência, Qui-quadrado de McNemar e modelo logístico binário. Os dados mostraram que a prevalência do uso de bebidas alcóolicas foi de 66,8%, e de uso abusivo de álcool, 35,1%. Durante a pandemia, 41,9% dos estudantes reduziram o número de dias / semana de consumo, 40% mantiveram e 18,1% aumentaram. Houve uma associação entre o uso abusivo de álcool e morar com outras pessoas (OR 1,706; IC 95% 1,140-2,590), exercer atividade remunerada (OR 1,435; IC 95% 1,052-1,954), ter parado de fumar (OR 2,594; IC 95% 1,823-3,696) ou fumar atualmente (OR 2,817; IC 95% 1,864-4,270), usar drogas ilícitas (OR 4,415; IC 95% 2,909- 6,823), praticar atividade física (OR 1,657; IC 95% 1,273-2,165) e relatar estresse severo ou extremamente severo (OR 1,634; IC 95% 1,167-2,290). Os achados sugerem que os estudantes estão consumindo menos bebidas alcoólicas na pandemia de COVID-19. Tal redução, embora possa ser vista como um fato positivo neste momento, pode sugerir a necessidade de maior atenção na volta às atividades presenciais nas universidades, com a exposição às situações que induzem o uso abusivo em interação com os fatores estressores pós-pandemia. Estratégias de conscientização e prevenção devem ser adotadas com grupos mais vulneráveis. A continuidade do Projeto de Ansiedade e Depressão em Universitários (PADu), com o monitoramento de fatores de risco é fundamental para compreender as relações causais do consumo de bebidas e os efeitos, a longo prazo, da pandemia COVID-19 no comportamento e saúde mental de estudantes universitários.

http://www.repositorio.ufop.br/jspui/handle/123456789/13712

Ano da defesa: 
2021
Linha de pesquisa: 
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Autor: 
Jorge Henrique Kothe Jannuzzi
Orientador: 
Profa. Dra. Elaine Leandro Machado
IES associada: 
Universidade Federal de Ouro Preto