Histórias de parteira e médica: uma autoetnografia sobre a (in)visibilização das parteiras tra-dicionais

As parteiras tradicionais são mulheres responsáveis pelo acompanhamento de grávidas e suas famílias com práticas de conhecimentos ancestrais milenares, utilizando medicinas que vem da natureza. Essas mulheres recebem esses saberes pela oralidade, geralmente passados por outras parteiras na mesma linhagem que as antecedem. Através da colonização, genocídios epistêmicos afetaram profundamente os povos cujas cosmovisões diferiam do pensamento hegemônico europeu, influenciando historicamente, inclusive, a forma como o cuidado à gestação e parto passou a acontecer. No Brasil, após a chegada das escolas médicas no século XIX, os partos acompanhados por parteiras nos domicílios foram sendo substituídos pelos partos com intervenções médicas, tornando-os no século XX prioritariamente hospitalares. Apesar de diversas ações que contribuíram para a marginalização das práticas das parteiras, elas seguem sendo responsáveis por milhares de nascimentos no país. Este trabalho se refere à autoetnografia de uma parteira na tradição e médica, que teve o primeiro contato com uma parteira durante sua residência de medicina de família e comunidade em Recife-PE. A partir desse encontro, a autora passa a receber os saberes do partejar por essa parteira que se tornou sua mestra. Através da contação e reflexões da sua história, a autora sistematiza a atuação da parteira tradicional à luz de suas experiências, e reflete sobre as expressões de invisibilização desse ofício, encontradas nas contradições do ser parteira, médica, mãe e mestranda. Observa-se neste trabalho que a atenção ofertada por parteiras tem como princípio as relações com a natureza e a integralidade tridimensional do ser (corpo-mente-espírito), sendo a base do cuidado os produtos que vem da terra e a relação com a espiritualidade. Como resultado, observa-se que a invisibilização se expressa desde a inexistência do diálogo sobre essas mulheres e sua importância nos espaços universitários em que a autora esteve presente, até as dificuldades do acesso ao registro das crianças nascidas por parteiras em centros urbanos. Por outro lado, foi possível observar também que existem espaços de encontros que reafirmam e fortalecem essas mulheres, capazes de trazer posicionamentos a respeito do que esperam sobre seus ofícios e sobre a sociedade, numa perspectiva intercultural. Entende-se que é necessário conhecer outras expressões de invisibilidade que possam vir das diversas realidades vivenciadas pelas parteiras tradicionais.

Ano da defesa: 
2021
Linha de pesquisa: 
ATENÇÃO À SAÚDE, ACESSO E QUALIDADE NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE
Autor: 
Caroline Costa Bourbon
Orientador: 
Profa. Dra. Micheli Dantas Soares; Profa. Dra. Luciana Alaíde Alves Santana
IES associada: 
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia