Percepção dos médicos do Programa Mais Médicos sobre sua capacitação na Atenção Primária à Saúde em Japeri e Paracambi

Introdução: A abordagem formativa interdisciplinar com metodologias ativas de aprendizagem empregadas no Programa Mais Médicos (PMM) busca, a partir da imersão do profissional de saúde da Atenção Primária à Saúde (APS) em seu próprio campo de prática, potencializar a autonomia, a organização e o senso crítico, a fim de desenvolver uma atitude comprometida com um olhar integral centrado na pessoa. Objetivo: Analisar as percepções dos médicos do PMM sobre a capacitação médica recebida de acordo com a proposta do eixo formativo do programa em Japeri e Paracambi (RJ) de 2014 a 2019. Método: Pesquisa qualitativa, sobre as percepções dos 10 médicos do PMM destes municípios. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas semiestruturadas gravadas contendo seis perguntas norteadoras. As respostas foram transcritas e analisadas pela pesquisadora, por decodificação e categorização de significantes através da análise de conteúdo, numa abordagem fenomenológica. A partir da repetição de palavras ou expressões nas narrativas, as codificações constituíram unidades de registro e geraram significantes propostos pela pesquisadora, balizados pelo referencial teórico. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética INI Fiocruz. Resultados: Todos os médicos eram brasileiros, faixa etária de 31 a 68 anos, cor parda ou branca, ingressaram no PMM a partir de 2015, sendo a metade há apenas dois anos, oito graduados na última década em universidades particulares ou no exterior (América Latina). Nove atuam em área urbana e sete possuíam outro vínculo profissional. As equipes da saúde da família continham de 1800 a 3700 usuários cadastrados. Foram agrupados em tabelas quatro temas contendo 21 significantes: Trabalho na APS (frustração, solidão, mudar a saúde, ideologia, missão, figuras de referência, reconhecimento, acolhimento); Estrutura e financiamento (trabalho em equipe, poucas doenças, limitação de recursos, violência, bolsa boa); Capacitação (supervisão presencial, autonomia pela supervisão, expectativas diferentes do PMM, perfil dos médicos) e Educação Permanente (porta de entrada, educação em saúde, escassez de contra referência, incongruência entre a prática e a teoria). Conclusões: Na percepção dos médicos entrevistados a garantia da integralidade e longitudinalidade da atenção são afetadas no PMM por problemas de gestão entre esferas de governos e escassez de recursos financeiros. Foi ressaltada a importância do trabalho em equipe, num papel de missão e reconhecimento da população carente, em equipes embora reduzidas em tamanho, num cenário de violência, e atendimento à problemas de saúde específicos (HAS, DM, transtornos mentais, pré-natal, pediatria) em turnos ambulatoriais agendados. Não manifestaram muita reflexão sobre a capacitação recebida no PMM, onde a parte teórica é oferecida em um dia semanal por via remota, percebem a supervisão como fundamental, demandando ainda o modelo tradicional de ensino médico, diferente do proposto no PMM, em concomitância com discussão de casos clínicos. Referiram uma incongruência entre a teoria e a prática na APS, principalmente no acesso à interprofissionalidade, e alguns, dificuldade com o uso de ferramentas web. Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde. Médico de Família e Comunidade. Educação em Saúde. Educação Médica. Educação Continuada. Percepção.

Ano da defesa: 
2021
Linha de pesquisa: 
PESQUISA CLÍNICA: INTERESSE DA ATENÇÃO BÁSICA
Autor: 
Fernanda Viana Campos
Orientador: 
Prof. a . Dra. Sonia Regina Lambert Passos
IES associada: 
Fiocruz RJ