Sobrepeso e obesidade infantil na Atenção Primária à Saúde: percepções dos médicos e enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família em Botucatu-SP

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Este fato é bastante preocupante, pois a associação da obesidade com alterações metabólicas, como a dislipidemia, a hipertensão e a intolerância à glicose, considerados fatores de risco para o diabetes melitus tipo 2 e as doenças cardiovasculares até alguns anos atrás eram mais evidentes em adultos; no entanto, hoje já podem ser observadas frequentemente na faixa etária mais jovem. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2017), estima-se que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, com 7,7%. Essa situação gera impactos importantes na saúde e deve ser um tema prioritário nas agendas dos profissionais da saúde e das autoridades. Esta pesquisa está voltada a reconhecer conhecimentos e práticas na percepção de médicos e enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família (ESF) sobre o sobrepeso e a obesidade infantil. Entende-se que compreender a percepção da atenção à criança com sobrepeso e obesidade é relevante para que se possa delinear como estes se apresentam na atenção básica, contribuindo para a reflexão sobre as políticas públicas na área e para a melhoria da qualidade das práticas de saúde dirigidas às crianças e à comunidade. Trata-se de uma pesquisa descritiva que utiliza um questionário semiestruturado para identificação e caracterização dos sujeitos da pesquisa e uma entrevista com roteiro em abordagem qualitativa que busca identificar as percepções dos médicos e dos enfermeiros das unidades da ESF do município de Botucatu acerca da atenção à saúde e da importância da abordagem e manejo do sobrepeso e da obesidade infantil na Atenção Primária. Os dados qualitativos foram analisados a partir da construção de categorias temáticas. O presente estudo foi aprovado pelo CEP-FMB UNESP, sob o número 79790417.4.0000.5411/2017. Como resultados, destacamos que foram entrevistados 100% dos médicos e enfermeiros que atuam na ESF do município de Botucatu e como características encontrou-se que a maioria dos profissionais é jovem, do sexo feminino e cerca de 50% deles com alguma especialização ou residência em Saúde da Família ou em outra área. Embora a maioria tenha referido ênfase na atenção primária durante a graduação, poucos referiram ter tido ênfase no atendimento à criança com sobrepeso ou obesidade. A análise qualitativa das entrevistas permitiu identificar 8 categorias temáticas: Embora a obesidade infantil seja identificada como um problema, ela não é considerada como prioridade no trabalho dos médicos e enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família; os pais como o centro do cuidado da criança com sobrepeso ou obesidade; caminhos desencontrados para o diagnóstico da criança com obesidade; percepção da dificuldade de mudança de hábito da família para o cuidado da criança; preconceito em relação às atitudes da criança obesa e sua família; existência de profissionais mais sensibilizados em relação ao tema; reconhecimento da existência do trabalho em equipe na ESF e falta de relação intersetorial. Destacamos a percepção da dificuldade do cuidado integral às crianças com sobrepeso ou obesidade e a falta de um protocolo de atendimento para o correto diagnóstico e abordagem deste tema. Também foi possível destacar que o NASF tem papel fundamental no cuidado a esse grupo populacional e que o trabalho com os pais é considerado primordial. Foi possível identificar falas muito preconceituosas e que de certa forma não têm uma compreensão mais ampla em relação à presença da obesidade na criança ou na família. Como considerações finais, espera-se, com esse trabalho, contribuir para a qualificação da atenção à criança com sobrepeso ou obesidade a partir da percepção das principais dificuldades identificadas nessa pesquisa e propor ações para o enfrentamento desse problema na Estratégia de Saúde da Família.

Ano da defesa: 
2019
Linha de pesquisa: 
ATENÇÃO INTEGRAL AOS CICLOS DE VIDA E GRUPOS VULNERÁVEIS
Autor: 
Marina Bollini e Silva
Orientador: 
Profa. Dra. Eliana Goldfarb Cyrino, Profa. Dra. Cátia Regina Branco da Fonseca
IES associada: 
Universidade Estadual Paulista