Utilização de atendimentos no serviço de atenção básica em um município do Espírito Santo segundo perfil sociodemográfico e de condições de saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) se propõe a garantir o acesso universal, integral e gratuito à população brasileira, tendo a atenção básica como principal porta de entrada. O acesso efetivo pode ser avaliado pela utilização dos serviços de saúde e não apenas pela disponibilidade. Trata-se de um estudo descritivo transversal, cuja fonte de dados foram registros administrativos das fichas do e-SUS de 8.390 indivíduos, de todas as idades, cadastrados numa Unidade de Saúde da Família (USF) do interior do Espírito Santo. Foi analisada a prevalência de utilização de atendimentos na USF, nas quais se incluíram consultas médicas e de enfermagem. Os utilizadores foram aqueles que fizeram pelo menos uma consulta médica ou de enfermagem, e não utilizadores foram os que não buscaram a unidade para esses atendimentos, no ano de 2019. Foram comparados os perfis sociodemográfico e de morbidade referida dos utilizadores e não utilizadores da USF em 2019. A prevalência de utilização de consultas foi de 50,1% dos cadastrados. Foram realizadas 19.113 consultas médicas e de enfermagem, sendo a média de consultas da população de 2,3 consultas (dp=3,6), 75% referentes às consultas médicas, e 1,7 consultas médicas por habitante ao ano. A maioria dos utilizadores fez até cinco consultas ao ano, porém aproximadamente um terço das consultas ofertadas se referem aos hiperutilizadores. Ser do sexo feminino, ser pardo ou negro, ter baixa escolaridade, idade mais avançada e não possuir plano de saúde privado esteve associado à maior utilização de consulta. Hipertensos e diabéticos apresentaram maiores prevalências de utilização, 78,2% e 81,8% respectivamente, porém cerca de 20% não utilizou a USF. Ter referido morbidades como hipertensão arterial e diabetes aumentou 1,76 (IC 95% 1,68-1,82) e 1,64 (IC 95% 1,56-1,72) vezes a utilização de atendimentos, respectivamente. Conclui-se que o perfil de menor nível socioeconômico dos utilizadores é semelhante ao de outros estudos quando avaliada a utilização do serviço público de atenção básica. A inclusão das consultas de enfermagem ampliou a abrangência da análise da utilização da ESF, e valorizou o cuidado multiprofissional, porém a prevalência de utilização não foi maior porque houve uma sobreposição de atendimentos. O conhecimento do perfil populacional e de morbidade dos utilizadores permite identificar grupos vulneráveis à não utilização, assim como conhecer as morbidades mais prevalentes para promover melhor organização da oferta de serviços e maior utilização da atenção básica.

Ano da defesa: 
2021
Linha de pesquisa: 
ATENÇÃO À SAÚDE, ACESSO E QUALIDADE NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE
Autor: 
Camila Altoe Barros
Orientador: 
Profa. Dra. Eloane Gonçalves Ramos; Profa. Dra. Kátia Silveira da Silva.
IES associada: 
Fiocruz RJ